quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O AMOR E O JARDINEIRO FIEL



O AMOR E O JARDINEIRO FIEL
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From: O AMOR E O JARDINEIRO FIEL
To: contato@caiofabio.com 
Sent: Wednesday, June 13, 2007 2:58 PM
Subject: Desaprendendo a namorar ... 2
Caio,
Na resposta a carta do Habib publicada no site você disse tudo e mais um pouco:
"Enfim, uma das sementes caiu num coração que queria amar, e que estava limpo e preparado; pois, nele, não havia sementes de enganos. Esse amou, foi feliz, e conheceu o sentido do encontro entre um homem e uma mulher."
O amor é realmente fruto do querer. O problema é que o medo de amar é mais forte, de amar sem ser amado, de se machucar na entrega do coração a outrem que não seja digno de tal entrega.
Daí as relações fortuitas, tênues e superficiais. Onde pouco se entrega para além do corpo, do tátil, do "fórnice".  Quanto menos se entrega menos se sofre porque parte-se da premissa que a decepção é inevitável ou muito provável.
Quem quer amar desprende-se de si, abre-se para o outro sem medo confiando ou mesmo tendo uma espécie de fé no amor. Isso sob a influência da paixão pode até parecer fácil, mas quando ela acaba....
Aprendi com a vida que nada vale mais a pena que amar e ser amado, nas diferentes formas e perspectivas que a relação amorosa possa ter.
Demorei muito a descobrir isso e espero recuperar o tempo perdido.
Sob a égide do amor
Ido.
Resposta:
Amadissimo Ido: Graça e Paz!
Sim! O amor nos acha; e, então, nos acorda, nos ergue do sono do desinteresse, nos faz seu servo, nos controla, nos guia, e nos subjuga.
Nesse estado inicial o amor nos age, nos domina, nos dá ordens; e nós obedecemos sem sentir...
É a paixão!
É o enfatuamento!
É o encontro da alma com sua projeção, com sua perfeição fantasiosa, com seus sonhos e com sua própria sombra de romance.
Daí o “Cantares” de Salomão dizer que se alguém não pode dar “seqüência ao amor” despertado no outro, então, que não acorde tal pessoa para algo que, não tendo correspondência, pode fazer sua alma sofrer para sempre.
Assim, no Gênesis de tudo na alma apaixonada, nada há a ser feito pelo homem (mulher); pois, de fato, a experiência da alma nesse ponto é como a de alguém que tivesse voltado ao inicio do mundo, e, à semelhança de Adão, tivesse sido acordado de um sono a fim de ser apresentado a quem foi tirada de dentro dele — a Eva real e a Eva de seus sonhos e projeções.
Desse modo o próprio livro de Gênesis inicia dizendo que o cônjuge é tirado do lado do companheiro, pois, psicologicamente, sempre foi e será sua projeção nos primeiros encontros e tempos.
A projeção-paixão passa com o tempo, com a volta dos hormônios às taxas normais, com a diminuição da produção cerebral no estimulo do sentimento, e com o esmagamento da realidade.
Ora, nesse ponto é que se pode saber se se ama alguém ou se se amava apenas a nossa ilusão projetada na pessoa.
Então, daqui pra frente, começa o amor ou a inimizade feita conjugalidade!
Sim! Porque existem pessoas que depois de passado o encanto, a magia, a bruxaria, o surto da paixão, logo se vê que elas entraram em nossa vida como um vírus oportunista penetra um sistema imunológico carente e vulnerável. Não pertencem ali. Entraram porque a alma abraçou a si mesma na imagem criada e projetada sobre o outro. Não pertencem ali, e, por isso, não dará jamais certo.
Entretanto, quando se encontrou mais do que nossa própria projeção fantasiosa no outro (porém, atrás da projeção, se encontrou alguém mais interessante do que ela, e mais amável do que ela – a projeção) — o surto da paixão pode dar lugar à escolha de um amor maduro e consciente. 
Ora, descobre-se logo que o outro é ou não nossa projeção quando mesmo sendo amados de volta, nossa alma não responde ao amor.
Entretanto, mesmo pessoas que têm tudo para amarem-se e viverem muito bem, quando continuam a insistir no “outro idealizado” e não no outro - real, terminam por não conseguirem encontrar o que buscam, pois, somente na verdade do encontro com o outro - real é que o coração pode encontrar o descanso para amar; isso se o outro existir sendo mais do que a gente projetou.
Entretanto, há pessoas que vivem para NÃO serem elas próprias na relação; e fazem isso para ver se seguram o outro de qualquer modo; e, portanto, tais pessoas acabem por diluírem-se em seus próprios seres e personalidades a fim de oferecerem-se como a encarnação da projeção (idealização) do outro. E, nesse caso, tornam-se escravas de algo que não é elas; e que as levará a um estado de inevitável amargura e tristeza.   
O verdadeiro amor conjugal, entretanto, combina sonho e realidade; desejo e altruísmo; entrega e posse; ter e dar.
Ora, tal amor não se ampara no sentir, como a paixão, mas sim na consciência, como é próprio do amor!
Assim, somos achados pelo amor apenas para que possamos encontrá-lo e mantê-lo.
O amor nos acha como potencial, mas é a decisão do coração que pode regá-lo, cuidar dele, trata-lo com reverencia e preserva-lo em nós.
A gente encontra o amor sempre como semente. Mas somente os jardineiros fiéis comem de seus frutos e dormem à sua sombra, quando a semente se torna como uma árvore de vida!
O problema é que depois de desilusões o coração pode ficar medroso e cínico. Entretanto, todas as nossas desilusões deveriam ser por nós tratadas como bênçãos, pois, afinal, trata-se de uma dês-ilusão; ou seja: da libertação da ilusão.
Portanto, mano, quem achar o amor, que dele cuide como aquele que acha um tesouro preciso enterrado num campo. Sim! Nesse caso, vale a pena vender tudo o que se tem e comprar aquele campo.
Amor que não é cuidado é como um jardim do éden entregue às intempéries da queda — não se o acha nunca mais, pois, como realidade, alimentava-se dos sonhos do coração de quem o amava e dele cuidava.
Mas quem vê como você vê, não está perdendo tempo, mas preparando-se para remir qualquer que tenha sido o tempo perdido.
Amo você meu irmão!
Nele, que nos ensina a amar com amor,
Caio
14/06/07
Lago Norte
Brasília

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