terça-feira, 16 de agosto de 2011

Uma outra globalização, por Milton Santos

Foto: Olga Vlahou

Uma outra globalização, por Milton Santos
Leia algumas frases do intelectual ditas no filme de Silvio Tendler

por Marcelo Bartolomei
 [17/08/2007]
                                                                                                             
Abaixo, algumas falas do geógrafo Milton Santos (1926-2001), registradas no documentário Encontro com Milton Santos ou: o Mundo Global Visto do Lado de Cá, de Silvio Tendler.

“De fato, se desejarmos escapar à crença de que esse mundo assim apresentado é verdadeiro, e não queremos admitir a permanência de sua percepção enganosa, devemos considerar a existência de pelo menos três mundos num só. O primeiro seria o mundo tal como nos fazem vê-lo: a globalização como fábula; o segundo seria o mundo tal como ele é: a globalização como perversidade; e o terceiro, o mundo como ele pode ser: uma outra globalização”.

“Num mundo que vive de retórica, acho que não custa nada a gente estudar para encontrar retórica oposta. Nós reclamamos contra os totalitarismos... nazismo, fascismo... e caímos noutro, noutras formas de totalitarismo, essa atual.”

“Eu creio que a chamada mídia, ela tem um papel de intermediação que a gente talvez não possa dizer que é inocente, mas não parte dela realmente, ou não é dela o poder. O poder é de um pequeno número de agentes internacionais da informação estreitamente ligados ao mundo da produção material, ao mundo das finanças o que controla de maneira extremamente eficaz a interpretação do que está se passando no mundo.”

“Acho que há uma multiplicidade de fenômenos de baixo que a gente não dá importância. A gente dá mais importância para a chamada violência. Então, os jornais falam da violência dos bairros. Tem bairros mal falados porque violentos. Mas as outras formas todas de manifestação que são propriamente culturais, mas que não aparecem como, com essa aura de cultura que é reservada, digamos assim, a parcelas já privilegiadas que fazem cultura, os outros fazem outras coisas. A gente não admite dizer imediatamente que o que eles fazem é cultura.”
“O problema que me parece importante com a globalização é, digamos, a segmentação da formulação dos códigos éticos. Quer dizer, há uma ética dos poderosos, que não chega a ser ética, e há uma outra ética dos que não tem nada, como também, há uma ética dos que desesperados é... Tomam o caminho do que a gente chama de violência.”

“Ah, sim, sim. Acho que a humanidade está destinada. Na realidade nunca houve humanidade, agora que está havendo. Acho que está é que é a coisa, então nós estamos fazendo os ensaios do que será a humanidade, nunca houve.”

“A gente descobriu uma coisa importante, é que a gente produz muito mais comida do que pode comer (...). A questão da fome não é a questão de produção de alimentos, é questão de distribuição (...). Isso a gente viu, quando de certas epidemias de fome na África e na Ásia, os Estados Unidos se recusando a dar ajuda alimentar se certas condições políticas não fossem preenchidas. No caso do próprio Brasil, se há uma parte da população que não come corretamente, isso é culpa unicamente da forma como nós organizamos a sociedade.”

“Creio que as condições da história atual permitem ver que outra realidade é possível. Essa outra realidade é boa para a maior parte da sociedade. Nesse sentido, a gente é otimista. A gente é pessimista quanto ao que está aí. Mas é otimista quanto ao que pode chegar.”

Eu fico por aqui e por aí, mas sempre no Caminho!
Jonas Lima da Silva

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