sexta-feira, 18 de maio de 2012

O CLAMOR DAS PEDRAS





O CLAMOR DAS PEDRAS¹

“Se eles se calarem, as pedras clamarão”.

        Posso estar interpretando erroneamente o sentido das palavras de Jesus. A mim, em tal fala, ele refere-se ao fato de que até “as pedras” estão clamando. Ou seja, os que deveriam estar sendo porta-vozes da verdade, se calaram. Aí Jesus vem e subverte o que entendemos por “natural” e institui pedras como gritadores dele.
        Confesso que ando meio calado (o que significa que não tenho gritado), portanto, tenho que afinar meus ouvidos ao que clamam as pedras. E o que tenho ouvido?
        Tenho ouvido uma banda de rock hardcore (nem sei se é assim mesmo que se escreve, mas é roque pesado) que toca em questões muito delicadas como a ganância humana e a hipocrisia cristã: “a sanguessuga sempre quer mais poder, dinheiro, sexo e até rock’and roll... a sanguessuga sou eu, a sanguessuga é você”; “que mundo construímos? Quem é o inimigo? Qual é a nossa religião?”.
        Tenho ouvido grupos de rap (lê-se répi) formados por jovens de periferia com pouca escolaridade, mas uma visão de mundo mais ajustada que dezenas de teses de doutorado e engajamento social muito maior do que centenas de igrejas: “Não pague pra ver, não pague pra ver, a noite pode ser boa ou acabar com você”; “Cansei, não dá mais pra esperar, acatar, sem nada falar”.
        Tenho visto um rapaz e um pequeno grupo pra lá e pra cá ensinando dança de rua (street dance, dança de b. boy, break dance, hip hop, para nós leigos são todos sinônimos de dança de rua). É um povo esquisito: roupas largas, acessórios estranhos, “jeito de malandro” mas que têm chegado em lugares onde a palavra oportunidade só faz sentido quando essa gentinha aparece. É melhor do que recuperar viciados, porque previne-se o vício. Como quantificar isso? Mas estão aí, com trinta, quarenta moleques por bairro. Quem vê? Quem apóia?
        Aí os caras vão pra encontros com hora marcada com Deus e a única descrição que podem fazer é que foi “tremendo”. Até parece refrão de axé-music: treme-treme, treme-treme. Graças a Deus, que o Deus de toda a Graça só tem um dia para nos encontrar: Hoje.
        Outros querem fazer templos para a “Glória de Deus” (como se fosse possível) e haja dinheiro, haja sorteio, haja campanha, haja coleta, haja paciência.
        Outros sentam na frente do computador e destilam veneno. Melhor “pra fora do que pra dentro” (já dizia Sua Majestade Shrek).

        Nele, que nos ama, mesmo escrevendo bobagens,

Joel.


1. Esse é um texto do meu mano Joel Lima da Silva.





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