O CLAMOR DAS PEDRAS¹
“Se eles se calarem, as pedras
clamarão”.
Posso
estar interpretando erroneamente o sentido das palavras de Jesus. A mim, em tal
fala, ele refere-se ao fato de que até “as pedras” estão clamando. Ou seja, os
que deveriam estar sendo porta-vozes da verdade, se calaram. Aí Jesus vem e
subverte o que entendemos por “natural” e institui pedras como gritadores dele.
Confesso
que ando meio calado (o que significa que não tenho gritado), portanto, tenho
que afinar meus ouvidos ao que clamam as pedras. E o que tenho ouvido?
Tenho
ouvido uma banda de rock hardcore (nem sei se é assim mesmo que se escreve, mas
é roque pesado) que toca em questões muito delicadas como a ganância humana e a
hipocrisia cristã: “a sanguessuga sempre quer mais poder, dinheiro, sexo e até
rock’and roll... a sanguessuga sou eu, a sanguessuga é você”; “que mundo
construímos? Quem é o inimigo? Qual é a nossa religião?”.
Tenho
ouvido grupos de rap (lê-se répi) formados por jovens de periferia com pouca
escolaridade, mas uma visão de mundo mais ajustada que dezenas de teses de
doutorado e engajamento social muito maior do que centenas de igrejas: “Não
pague pra ver, não pague pra ver, a noite pode ser boa ou acabar com você”;
“Cansei, não dá mais pra esperar, acatar, sem nada falar”.
Tenho
visto um rapaz e um pequeno grupo pra lá e pra cá ensinando dança de rua
(street dance, dança de b. boy, break dance, hip hop, para nós leigos são todos
sinônimos de dança de rua). É um povo esquisito: roupas largas, acessórios
estranhos, “jeito de malandro” mas que têm chegado em lugares onde a palavra oportunidade só
faz sentido quando essa gentinha aparece. É melhor do que recuperar viciados,
porque previne-se o vício. Como quantificar isso? Mas estão aí, com trinta,
quarenta moleques por bairro. Quem vê? Quem apóia?
Aí
os caras vão pra encontros com hora marcada com Deus e a única descrição que
podem fazer é que foi “tremendo”. Até parece refrão de axé-music: treme-treme,
treme-treme. Graças a Deus, que o Deus de toda a Graça só tem um dia
para nos encontrar: Hoje.
Outros
querem fazer templos para a “Glória de Deus” (como se fosse possível) e haja
dinheiro, haja sorteio, haja campanha, haja coleta, haja paciência.
Outros
sentam na frente do computador e destilam veneno. Melhor “pra fora do que pra dentro”
(já dizia Sua Majestade Shrek).
Nele,
que nos ama, mesmo escrevendo bobagens,
1. Esse é um texto do meu mano Joel Lima da Silva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário