William Blake
“Depois disto, o Senhor, do meio de um redemoinho, respondeu a
Jó...” Jó foi o homem que conheceu o poder construtivo das perdas. Perdeu tudo.
Perdeu todos. Os filhos haviam morrido, seus bens roubados ou devastados pelas
catástrofes que sobre ele se abateram.
Sua saúde é atingida de tal modo que ele fica por um fio: incapaz
de viver e incapaz de morrer—existindo no limbo onde nem a vida e nem a morte
lhe são possibilidades de alívio. Sua mulher se des-casa de sua dor. Seus
servos já não o reconhecem. Sua dignidade e virtudes antes aclamadas, são agora
interpretadas por quase todos como uma grande falsificação. E, por último,
perde os amigos, que interpretam sua calamidade como um juízo divino sobre a
sua vida. Jó ficou só. E a companhia de seus amigos acusadores se lhe tornou
presença idêntica a do Acusador. Seus amigos, sem o saberem, haviam se tornado
mais danosos à sua alma que Satanás.
Jó quer saber o por quê. Geme. Pede a morte. Deseja ser um aborto.
Amaldiçoa o dia de seu nascimento. Denuncia a História Humana como cenário do
Absurdo e da Injustiça. E, diante dos amigos, nega-se a confessar-se para além
do que já dissera. Jó se permite sofrer. Jó conhece a Indisponibilidade de Deus
e dos homens e começa a adoecer de um mal maior. Jó estava ficando amargurado
com as interpretações homens e com o silêncio de Deus...
E no seu desespero, ele constitui Deus seu Advogado contra Deus e
os homens. As vozes tanto dos juízos humanos de seus amigos quanto as dos
clamores de Jó cessam apenas quando Deus “responde” a Jó do meio de um
redemoinho! Sempre me perguntei por quê Deus falou a Jó do “meio de um
redemoinho”. Ora, a vida de Jó estava sob total poder avassalador. Sua
existência havia sido “varrida” pela força daquele diabólico “tornado” que
destruíra tudo o que ele amava e havia construído.
Daí, então, a imagem ser perfeita. Era como se Deus dissesse: “Eu
estou no meio de teus tormentos!” O fato mais interessante é que o “meio do
redemoinho” é um lugar de paz. Hoje sabemos que no “olhinho”, no centro das
tensões que formam o fenômeno do redemoinho, existe um silêncio total, uma
calma absolutamente chocante, uma “causa-paz” que contraria o
“efeito-catastrofe” por ele manifesto. E aqui há uma “parábola”. Isto porque o
redemoinho é produto de uma relação de causa e efeito estudável no universo das
leis fixas. Mas, estranhamente, existe uma “contradição” nele, pois, no meio da
devastação existe um lugar oposto, um lugar de paz. E é desse “lugar” que Deus
fala a Jó.
E, assim, Deus usa um fenômeno de “causa e efeito” a fim de
manifestar a “não-causalidade” dos efeitos que Jó experimentava na carne. Jó
era vítima de fenômenos físicos e espirituais, mas seu Deus continuava o mesmo
e não havia se permitido mudar pelas tormentas que quase mataram Seu “amigo
Jó”. Na maioria das vezes é no meio do redemoinho onde se encontra a maior
Graça!
Nele, Caio
Fonte:
http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=02618
Nenhum comentário:
Postar um comentário