O AMOR E O JARDINEIRO
FIEL
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From: O AMOR E O
JARDINEIRO FIEL
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Sent: Wednesday, June 13, 2007 2:58 PM
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Desaprendendo a namorar ... 2
Caio,
Na resposta a carta
do Habib publicada no site você disse tudo e mais um pouco:
"Enfim, uma das
sementes caiu num coração que queria amar, e que estava limpo e preparado;
pois, nele, não havia sementes de enganos. Esse amou, foi feliz, e conheceu o
sentido do encontro entre um homem e uma mulher."
O amor é realmente
fruto do querer. O problema é que o medo de amar é mais forte, de amar sem ser
amado, de se machucar na entrega do coração a outrem que não seja digno de tal
entrega.
Daí as relações
fortuitas, tênues e superficiais. Onde pouco se entrega para além do corpo, do
tátil, do "fórnice". Quanto
menos se entrega menos se sofre porque parte-se da premissa que a decepção é
inevitável ou muito provável.
Quem quer amar
desprende-se de si, abre-se para o outro sem medo confiando ou mesmo tendo uma
espécie de fé no amor. Isso sob a influência da paixão pode até parecer fácil,
mas quando ela acaba....
Aprendi com a vida
que nada vale mais a pena que amar e ser amado, nas diferentes formas e
perspectivas que a relação amorosa possa ter.
Demorei muito a
descobrir isso e espero recuperar o tempo perdido.
Sob a égide do amor
Ido.
Resposta:
Amadissimo Ido: Graça
e Paz!
Sim! O amor nos acha;
e, então, nos acorda, nos ergue do sono do desinteresse, nos faz seu servo, nos
controla, nos guia, e nos subjuga.
Nesse estado inicial
o amor nos age, nos domina, nos dá ordens; e nós obedecemos sem sentir...
É a paixão!
É o enfatuamento!
É o encontro da alma
com sua projeção, com sua perfeição fantasiosa, com seus sonhos e com sua
própria sombra de romance.
Daí o “Cantares” de
Salomão dizer que se alguém não pode dar “seqüência ao amor” despertado no
outro, então, que não acorde tal pessoa para algo que, não tendo
correspondência, pode fazer sua alma sofrer para sempre.
Assim, no Gênesis de
tudo na alma apaixonada, nada há a ser feito pelo homem (mulher); pois, de
fato, a experiência da alma nesse ponto é como a de alguém que tivesse voltado
ao inicio do mundo, e, à semelhança de Adão, tivesse sido acordado de um sono a
fim de ser apresentado a quem foi tirada de dentro dele — a Eva real e a Eva de
seus sonhos e projeções.
Desse modo o próprio
livro de Gênesis inicia dizendo que o cônjuge é tirado do lado do companheiro,
pois, psicologicamente, sempre foi e será sua projeção nos primeiros encontros
e tempos.
A projeção-paixão
passa com o tempo, com a volta dos hormônios às taxas normais, com a diminuição
da produção cerebral no estimulo do sentimento, e com o esmagamento da
realidade.
Ora, nesse ponto é
que se pode saber se se ama alguém ou se se amava apenas a nossa ilusão
projetada na pessoa.
Então, daqui pra frente,
começa o amor ou a inimizade feita conjugalidade!
Sim! Porque existem
pessoas que depois de passado o encanto, a magia, a bruxaria, o surto da
paixão, logo se vê que elas entraram em nossa vida como um vírus oportunista
penetra um sistema imunológico carente e vulnerável. Não pertencem ali.
Entraram porque a alma abraçou a si mesma na imagem criada e projetada sobre o
outro. Não pertencem ali, e, por isso, não dará jamais certo.
Entretanto, quando se
encontrou mais do que nossa própria projeção fantasiosa no outro (porém, atrás
da projeção, se encontrou alguém mais interessante do que ela, e mais amável do
que ela – a projeção) — o surto da paixão pode dar lugar à escolha de um amor
maduro e consciente.
Ora, descobre-se logo
que o outro é ou não nossa projeção quando mesmo sendo amados de volta, nossa
alma não responde ao amor.
Entretanto, mesmo
pessoas que têm tudo para amarem-se e viverem muito bem, quando continuam a
insistir no “outro idealizado” e não no outro - real, terminam por não
conseguirem encontrar o que buscam, pois, somente na verdade do encontro com o
outro - real é que o coração pode encontrar o descanso para amar; isso se o
outro existir sendo mais do que a gente projetou.
Entretanto, há
pessoas que vivem para NÃO serem elas próprias na relação; e fazem isso para
ver se seguram o outro de qualquer modo; e, portanto, tais pessoas acabem por
diluírem-se em seus próprios seres e personalidades a fim de oferecerem-se como
a encarnação da projeção (idealização) do outro. E, nesse caso, tornam-se
escravas de algo que não é elas; e que as levará a um estado de inevitável
amargura e tristeza.
O verdadeiro amor
conjugal, entretanto, combina sonho e realidade; desejo e altruísmo; entrega e
posse; ter e dar.
Ora, tal amor não se
ampara no sentir, como a paixão, mas sim na consciência, como é próprio do
amor!
Assim, somos achados
pelo amor apenas para que possamos encontrá-lo e mantê-lo.
O amor nos acha como
potencial, mas é a decisão do coração que pode regá-lo, cuidar dele, trata-lo
com reverencia e preserva-lo em nós.
A gente encontra o
amor sempre como semente. Mas somente os jardineiros fiéis comem de seus frutos
e dormem à sua sombra, quando a semente se torna como uma árvore de vida!
O problema é que
depois de desilusões o coração pode ficar medroso e cínico. Entretanto, todas
as nossas desilusões deveriam ser por nós tratadas como bênçãos, pois, afinal,
trata-se de uma dês-ilusão; ou seja: da libertação da ilusão.
Portanto, mano, quem
achar o amor, que dele cuide como aquele que acha um tesouro preciso enterrado
num campo. Sim! Nesse caso, vale a pena vender tudo o que se tem e comprar
aquele campo.
Amor que não é
cuidado é como um jardim do éden entregue às intempéries da queda — não se o
acha nunca mais, pois, como realidade, alimentava-se dos sonhos do coração de
quem o amava e dele cuidava.
Mas quem vê como você
vê, não está perdendo tempo, mas preparando-se para remir qualquer que tenha
sido o tempo perdido.
Amo você meu irmão!
Nele, que nos ensina
a amar com amor,
Caio
14/06/07
Lago Norte
Brasília